Vizinhos
Cresci num prédio em Lisboa. Mas esse prédio tinha traseiras, quintal e umas escadas de caracol.
Tenho presente o cheiro das comidas das casas dos meus vizinhos. Comia em todo o lado. Fui acarinhada por todos.
Era um prédio com calor humano.
O meu prédio tinha (e ainda tem) uma porteira muito caricata.
A minha rua tinha (e ainda tem) uma pequena mercearia, um café, uma drogaria, uma papelaria recheada de doces e pipas...
Mudei-me aos 17 anos para um sítio que não tinha nada a ver, mas onde me sentia igualmente bem. Não tinha vizinhos, mas acabei por ir conhecendo os moradores da rua.
Quando casei mudei-me novamente para um apartamento. O choque foi brutal. Os meus vizinhos eram intragáveis, a casa tinha as paredes muito finas e parecia que tudo o que acontecia era conhecimento público.
A minha vizinha de baixo era uma histérica. Se a minha televisão estava um bocadinho alta ela chamava a polícia, se levava algum amigo lá a casa ela chamava a polícia... dizia nas reuniões de condomínio que eu cuspia-lhe a roupa. Bem, um autêntico inferno. O meu vizinho do lado tinha companhias muito estranhas em casa... estranhas e todos os dias diferentes.
Conseguimos vender o apartamento e compramos uma casa. No sítio onde vivi aos 17 anos. Umas ruas a cima, mas num local conhecido.
Hoje em dia, tenho o prazer de ver a minha filha a esticar o dedo e apontar para casa da vizinha. Tenho o prazer de a poder levar à casa dela e de vê-la entretida. Confio na vizinha.
E já me chegou a acontecer de ver a Bi rodar de casa em casa... na brincadeira com as vizinhas.
Acho saudável... quero que ela saia à rua e conheça o calor humano. Quero que de alguma forma, o sítio onde ela cresça lhe deixe boas recordações e lhe traga vivências de pessoas, diferentes de nós.
E embora, às vezes me apeteça mudar para uma casa maior, sei que dificilmente vou encontrar outro ambiente saudável e familiar que existe entre a vizinhança.
4 comentários:
leva-me para viver aí! leva-me leva-me que esta gente do meu prédio não bate muito bem da bola :)
bjs
Percebo perfeitamente o que queres dizer, também tive as minhas razões de queixa do meu antigo prédio. Agora vivo num sitio calmo onde há muitas crianças e espero, sinceramente, poder vir a deixar a B. brincar na rua com os vizinhos!!
Eu também nasci e cresci num sitio onde toda a gente se conhecia, onde entravamos e saíamos da casa dos vizinhos como na nossa, tenho montes de saudades desse tempo.
Hoje apesar de viver no mesmo sitio já não é assim, o meio pequeno tornou-se maior e os campos verdes de milho deram lugar a blocos de apartamentos e aqueles vizinhos muitos ou se mudaram ou morreram.
Tenho muita pena que as minhas filhas não vão poder viver e sentir aquele calor humano de outrora.
Bjs
Os meus vizinhos nao merecem sequer um Bom dia, mas a muito custo e porque sou bem educadinha falo a toda a gente, mas o meu sorriso nem ve-lo...
Beijos enormes
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