segunda-feira, setembro 24, 2007

As crianças Nham, Nham, Nham

Em pleno momento de trabalho alguém se sai com esta:

_É pá, é que eu não gosto mesmo nada de crianças Nham, Nham, Nham...

E aqui esta cabecita que já precisa tanto de férias, começou a fervilhar uma série de ideias e ainda não muito convencida tentei perceber o que são as crianças Nham, Nham.
Então juntando várias descrições comecei a perceber que eram as crianças que diziam muitos diminutivos, que se agarravam muito à saia da mãe, que por uma razão ou por outra não são tão independentes ou devo eu dizer: são despegadas.

Aquilo até podia ser dito de outra maneira, mas não foi. Foi dito assim com uma certeza inabalável do que era bom e do que era mau.

Eu não consigo ter estas certezas na minha vida. Incomodou-me e fiquei sem diálogo o resto do dia.

Tenho uma amiga que escreveu no outro dia um texto sobre crianças que dizem muitos diminutivos ou melhor, pais que falam com os filhos com diminutivos. Mas, da forma como ela explicou, da forma como o escreveu (ou talvez por a conhecer), não me soou mal. Percebi a ideia, não me chocou. Não concordo na totalidade, mas consigo respeitar a opinião dela.

Como este tipo de assuntos têm vindo à baila, passam por aqui e por ali, numa conversa de café, num assunto mais sério, ou apenas exposto num blog para o mundo ler achei que chegou a minha vez de opinar.

Tenho a sensação que alguns pais querem que os filhos sejam o que eles querem e se esquecem muitas vezes daquilo que eles já são.

Sim, porque eles já são!

Por exemplo, eu adoro a minha filha, mais do que eu a amo, não a ama ninguém, mas tenho consciência que já mudei muito para me adaptar à sua maneira de ser. Aprendi a ser mais paciente. Mudei, cresci. Ela é uma criança muito activa, adora tudo o que seja movimento, correria, barulho, festas, etc. Ora eu gosto muito de lhe ler histórias, mas sei que ela só vai ouvir a primeira folha. As restantes são passadas assim todas muito depressa até chegar à última e ela dizer: JÁ TÁ! ÓOOOO ACABOU!
E passamos ao outro livro e a outro e a outro e à estante toda. Eu gosto muito de pintar e desenhar e ela só se for nas paredes, porque não me parece muito interessada no assunto. Ainda esta semana, a realizar um trabalho para a escola, ela com 20 pincéis à frente escolheu logo o tubo da cola. Pronto. Não insisto, vamos lá dançar ou ouvir o sapo mais 500 vezes.

Isto para dizer que ela é uma criança como todas as outras, mas que tem já alguns gostos, algumas coisas que prefere fazer.
Ora eu quando lhe falo num carro e ela me diz popó, eu não acho aquilo nada errado. O popó é um carro, o popó do menino ou da menina, que quando crescer vai ser o carro. Sim, porque mesmo falando em popós eu acredito que aos 18 anos ela já fale em carros. E sei inclusive, que mesmo falando em popós se alguém lhe perguntar onde está o carro ela sabe com toda a certeza.

É pá e agora pergunto eu, que mal é que tem isto? E se o mundo fosse feito de popós e de chichas e de nuvens cor-de-rosa, sóis azuis e tudo o que a nossa imaginação quiser...

Um dia ela vai crescer, os popós vão ser carros e as chichas vão ser carne, ela vai descobrir que não se pode andar em cima das nuvens.

Por enquanto eu apenas quero que ela seja uma criança... Nham, nham, nham, ou muito independente? Não sei, não penso muito nisso, dou-lhe o que tenho e apenas quero que ela seja feliz.

20 comentários:

Tia Moky disse...

Isso mesmo!
As crianças têm tempo para a agressividade da "vida lá fora"! Enquanto são crianças merecem serem tratas como tal! As palavras "pópó" e "múmú" ajudam a designar as coisas e, como tu disses, sabem bem o que significam quando falamos em carros e vacas!
São fases e tenho a certeza que muitos que criticam também usaram expresões de bebé e andaram agarrados à saia da mãe!

Beijos

Moky

Tia Moky disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jolie disse...

Na mouche!

beijos

Cocas disse...

Não podia concordar mais contigo! O Gui é um bebe nham nham e independente tb. E sabes que mais, mimo a mais nunca é demais... já a menos....

Beijinhos
Cocas :)

andreia disse...

faço das tuas palavras minhas, tal como tu ja ouvi falar muito sobre isso mas sinceramente? para mim continua a haver xixa, e popo, e muitos inhos, quando ela muda a maneira de dizer certa palavra ai sim acompanho-a e digo como ela diz agora, mas antes di´sso...
jinhossss
andreia

Raquel disse...

Penso exactamente como tu!

Lúcia disse...

Apesar de não ser fã dos diminuitivos ( porque não os uso no meu vocabulário ) também não a corrijo e também acho que não vem mal ao mundo por isso.
Bjnhs

Xana disse...

Acho que disseste exactamente o que penso!

Beijinhos

Anónimo disse...

Apoiado!!!

Anónimo disse...

Gostei imenso de ler o que escreveste pois não só o fizeste de forma muito espirituosa, como foste bastante clara. Creio que não existe mal nenhum no facto de as crianças serem crianças e criarem um mundo muito próprio sempre que lhes apetece. Penso mesmo que o grande mal reside no facto de tentarmos fazer o mundo delas à medida do que desejamos. Temos ideias muito bem definidas sobre como devem falar, comer, sentar-se, brincar e, esquecemo-nos do essencial: ser criança é não ter que obedecer a regras! Creio que enquanto adultos temos é inveja de já não podermos ser/estar como as crianças. Pena que alguns de nós não consigam manter a capacidade de entrar no mundo do "faz-de-conta", nem que seja só um bocadinho, nem que seja só de vez em quando, nem que seja tão somente para fazer sorrir a própria alma.

Sandra Neto, mãe da Inês (35 meses)e do Salvador (10 semanas)

Anónimo disse...

Here here!

Liana disse...

Concordo contigo Ana.

Beijo

carla disse...

É isso mesmo, eu com o meu filho tive de o cemçar a corrigir por volta dos 3 anos, pq a educadora lá achava que ele tinha um "atraso" na fala, mas optei por eu dizer a palavra correcta, tipo ele dizia mãe olha o popó e eu respondia é o carro, pois é filho...fiz-me perceber?

Um beijo

LP disse...

Pessoalmente não uso diminuitivos mas os meus filhos usaram (usam) e alguns até eram bem engraçados. Preocupam-me mesmo são os fundamentalismos. O "não gosto de crianças nham-nham", "não gosto de crianças que gritam", "não gosto de crianças que choram" é uma forma de dizer "não gosto de crianças!"

Cláudia Braz disse...

eu também digo "popó", fazer "ó ó", se quer "colinho", "mamã" e "papá", em vez de "mãe e pai" e etc...

E não vejo qualquer problema nisso!

ddm disse...

Estou contigo!
Que até não uso(amos) muito os diminutivos, mas os meus filhos chamam-me mamã e há quem ache isso Nham, Nham.

Carina Oliveira disse...

Adorei este teu texto e arrepiei-me a lê-lo....
Eu quase com 28 anos falo em chicha e em pópós e que mal é que isso tem?

Há coisas na vida que nos deixam felizes e isso sim é o mais importante que temos.

Grande beijo

TC disse...

Mai nada!! Concordo 1001% com o k tu dizes!! É isso e o Rodrigo comer em frente da TV e dormir connosco na cama... pá, aos 18 anos já não o vai fazer, de certeza...!! Além de que estes "maus hábitos" que mencionei, e que são mt próprios do MEU filho, existem por um motivo, e ninguém tem nada com isso e nem sequer é tema de conversa, pois nós, os pais, é que sabemos como os educar...
Porra, as pessoas que criticam uns e outros e fazem disso temas de conversa irritam-me...
É como tu dizes e pronto! ;)

Jokas!!

[AVENA]

AnaBond disse...

os meus filhos ainda hoje dormem connosco na nossa cama.
ele deixou a xuxa quando quis. ela nunca quis xuxa.
eu sempre disse carro, mas porque calhou. xixa não digo, é mesmo aquela palavra que detesto (sorry, mas faz-me sempre lembrar outras coisas). mas o meu filho volta e meia diz mal algumas palavras e não o corrijo. adoro mesmo.

é como falar com eles na terceira pessoa porque se falar no TU eles não entendem.
há que saber como lidar com cada criança. e cada uma é como cada qual. são todas diferentes e cabe-nos a nós, adultos, saber como lidar com cada uma.

gostei muito de ler.
gosto muito de te ler.

Smas disse...

EU só hoje li isto que escreveste mas não podia deixar de comentar.
Cá em casa tento não usar muitos diminutivos, tirando o leitinho, mas eles usam outros que ouvem a alguém (ela ouve a ele, ele nem sei que na escola é só inglês...) mas não me incomodam. Penso como tu e não o saberia dizer/escrever melhor. O que me irrita são os extremismos, não gostar de crianças nham nham, assim...
Bjs